terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Clube da Esquina carioca

Na verdade, não é em uma esquina, mas bem no meio de um quarteirão na rua Martins Ferreira, em Botafogo, mais especificamente no número 48. Porém, é ali que reside, desde quinta-feira, um pedacinho do famoso Clube da Esquina de Milton Nascimento. Filho de Beto Guedes, um dos pioneiros do tal “clube” mineiro, Gabriel, 35 anos, abriu, no endereço onde funcionou por anos o Espaço Cultural Maurice Valansi, uma filial do bar Godofredo (homenagem ao avô, um notório compositor de choros), sucesso há quatro anos no boêmio bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte.

“Vai uma pinguinha aí?”, convida o anfitrião, esbanjando mineirice, assim que chega nossa equipe (ainda eram 11h da manhã, registre-se). “Entre outras marcas, tem aqui uma cachaça especial do norte de Minas, Viriatinha, que é pau a pau com as melhores”, destaca.

Além das opções etílicas e gastronômicas que remetem a Minas Gerais, é claro que o prato principal do Godofredo é a música. Com instalações temáticas do Clube da Esquina e repleto de instrumentos pendurados pelas paredes, assim como sua matriz em Belo Horizonte, o espaço é um convite à canção.

“Vai ser exatamente como é lá!”, garante Gabriel, que, no meio da noite, costuma surpreender os clientes ao tocar clássicos de seu pai no piano em uma canja não-programada. “A ideia é, quem quiser, pegar um violão, um sax, um trompete, um baixo ou sentar ao piano (tem um de cauda bem no meio do bar!) e fazer um som. O Milton Nascimento é meu padrinho, e ele sempre disse que o lance legal do Clube era a amizade. E eu mesmo já estou fazendo uma rede de amigos músicos no Rio”.

Entre esses novos chapas, está Daniel Jobim, neto do Tom, atração de sexta-feira no Godofredo. “Estou em um ‘ping-pong’ danado entre Belo Horizonte e o Rio. Aluguei um apartamento no Humaitá, mas ainda conheço pouco a cidade. Ao menos, já aprendi onde é o Túnel Rebouças e como chega na casa do Daniel, em Ipanema”, diverte-se Gabriel Guedes.

Aos sábados, o bar convida músicos da nova geração e, aos domingos, o palco está aberto. Entre os nomes já programados estão Toninho Horta, Milton Nascimento, Yuri Popoff, Hamilton de Holanda e Beto Guedes. O pai de Gabriel, inclusive, é o principal responsável por despertar a paixão do filho pelo Rio. “Eu amo essa cidade! Desde criança, quando meu pai vinha tocar aqui. Lembro de ficar deslumbrado olhando as praias na Zona Sul e aqueles gramadões no Aterro do Flamengo”, recorda. “E aqui onde abrimos o bar, de lambuja, ainda tem a vista do Cristo ali do lado”, comemora.


E, atestando a emblemática frase da música ‘Clube da Esquina 2’, que diz que “sonhos não envelhecem”, Gabriel antecipa, entusiasmado, seus próximos projetos: “Depois de estabelecer o Godofredo no Rio, quero montar um em São Paulo. É importante manter vivas as músicas do Clube da Esquina”, decreta.

GOSTINHO DE MINAS
Para a empreitada no Rio, Gabriel Guedes está com mais três sócios: os também mineiros Pablo Curty e Ramon Curty, e o chef Renato Costa, único carioca da equipe. É ele quem assina o cardápio com influências da cozinha mineira, apresentando pratos que mesclam o tradicionalismo dos ingredientes das fazendas com a cozinha contemporânea.


“Acho que o carro-chefe do Godofredo vai ser o pastelzinho de angu, que é uma coisa que não se vê muito aqui no Rio”, elege Renato (serão seis unidades, nos sabores couve com torresmo e bacon; palmito com tomate seco e cheddar; e frango caipira com requeijão, por R$ 15,90). O chef foi professor de gastronomia em Sidney, na Austrália, e serviu até a estrela do cinema Nicole Kidman.

“Outros destaques, acredito que serão a carne de panela na cerveja preta (R$ 31,90) e a panceta de porco (R$ 32,90), que em Minas é chamada torresmão de barriga. É a tradicional panceta assada, mas com molho de tamarindo”, descreve. LSM (fotos Felipe O'Neill) 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Secos, molhados e brigados

Parece que um gato preto cruzou o caminho do grupo Secos & Molhados, um dos mais importantes e populares da história da música brasileira. Logo após o imenso sucesso, no início dos anos 70, o trio formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad se desfez tão rápido quanto despontou ao estrelato. E, desde então, disparam cobras e lagartos uns contra os outros, João de um lado, Ney e Gerson do outro. Este último acaba de lançar sua versão da história da banda no livro ‘Meteórico Fenômeno — Memórias de um ex-Secos & Molhados’ (editora Anadarco, 135 págs., R$ 56).

“O João Ricardo é patético: já declarou tantos absurdos contra mim e contra o Ney que achei por bem escrever uma visão tranquila e amadurecida do que vivi. Durante os anos, muita coisa foi deturpada por essas declarações do João Ricardo. É um desrespeito ao público que tanto nos cultua até hoje”, desabafa Gerson Conrad.

O livro traz ainda um CD, com duas músicas recentemente gravadas pelo autor: a clássica ‘Rosa de Hiroshima’, que ele fez para a poesia de Vinicius de Moraes, mas nunca havia cantado, e ‘Direto Recado’, uma mensagem ao seu desafeto em forma de canção (“Em boca fechada não entra mosquito e também não gera conflito”, “Talvez fosse melhor deixar que vivesse o mito” e “Já não temos mais que ser nem secos, nem molhados” são alguns trechos da letra).

Apesar de fartamente ilustrada, a publicação não traz João nas fotos históricas. “Ele negou o uso de imagens, mas, se você entrar no site do Secos & Molhados que ele fez, eu posso aparecer nas fotos ao lado dele. É uma pobreza de espírito total”, decreta Conrad.

João Ricardo afirmou que o ex-colega “valorizou muito sua participação no grupo, coitado. Nunca tocou bem”. “Mais uma vez, ele foi desrespeitoso comigo”, lamenta Conrad. “Ele só não percebe que a formação mágica e reconhecida é a que eu participei. Das outras, ninguém sequer se lembra. Foi um encontro mágico. O Secos é comigo e com o Ney!”.

Gerson Conrad e Ney Matogrosso, no lançamento do livro

Apesar de os três artistas estarem aí vivos e saudáveis, parece que ainda é muito difícil que o trio volte a se reunir, mesmo que em uma ocasião especial apenas. “Já me ofereceram R$ 5 milhões para isso! Mas o João quer ser sozinho o pai da história”, descarta.

E a tal questão, tratada inclusive no livro, sobre o grupo norte-americano de rock Kiss ter imitado as maquiagens do Secos? “Até hoje, ninguém tem a resposta da verdade. Quem me dera toda polêmica fosse leve como essa!”, diverte-se Conrad. LSM

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Clássico dos anos 70 está de volta em LP

Cultuado até no exterior, ‘Maria Fumaça’, da Banda Black Rio, é relançado em seu formato original

Imagina o rei do soul norte-americano James Brown se jogando em uma roda de samba em Vaz Lobo, na Zona Norte carioca? É mais ou menos por aí o som da Banda Black Rio, que surgiu no subúrbio do Rio nos anos 70, época que a música negra tinha uma excelência muito grande. E o melhor exemplo dessa mistura única de jazz, funk e soul com ritmos brasileiros é seu célebre disco de estreia, o raro ‘Maria Fumaça’, de 1977, relançado agora em vinil de 180 gramas (com melhor qualidade de áudio) pela Polysom, gravadora de discos de vinil de Belford Roxo.

“Fomos tocar na Europa recentemente e lá eu vi vendendo um LP desses por 300 euros (cada bolacha nova da Polysom sai a R$ 79,90)”, espanta-se o tecladista William Magalhães, filho do fundador da banda, o saxofonista Oberdan Magalhães (a formação original se desfez quando Oberdan morreu, em 1984, em um acidente de carro). “É importante este LP estar novamente em voga, para conscientizar os brasileiros sobre a relevância desse nosso patrimônio cultural, que, infelizmente, é mais reconhecido no exterior”, lamenta ele.

Atualmente, é William quem toca a Black Rio e, à frente da nova formação fez muita gente chacoalhar com uma homenagem a James Brown no encerramento do festival Back2Black, no último dia 17. “Músicas do ‘Maria Fumaça’, como ‘Mr. Funky Samba’ e a própria faixa-título (que foi tema de abertura da novela ‘Locomotivas’, da Globo), a gente não pode deixar nunca de incluir no repertório”, ressalta o tecladista.

“A banda influenciou até grupos como o inglês Jamiroquai, que já declarou isso, e no hip hop quase todo mundo foi influenciado pela Black Rio”, derrete-se William, anunciando que vêm mais lançamentos por aí. “Fizemos um disco que saiu só la fora, o ‘Super Nova Samba Funk’, com Caetano Veloso, Gil, Seu Jorge e Elza Soares, que em 2014 finalmente vai ser lançado no Brasil”, comemora ele. LSM

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Você lembra, lembra?

É uma biografia autorizada, mas não é chapa branca. Quem garante é a jornalista Vanessa Oliveira, autora de ‘Tudo de Novo — Biografia Oficial do Roupa Nova’ (Editora Best Seller, 540 págs., R$ 50). “Eu falei para eles que iria escrever esse livro na raça, mesmo sem autorização. Até que, depois de seis meses insistindo com o empresário do grupo, eles finalmente me receberam e toparam participar”, conta Vanessa.

Na verdade, nem todos do sexteto viram com bons olhos o destemido projeto da autora. “Qualquer um ficaria grilado quando alguém que você não conhece diz querer  escrever sobre sua vida.  Nós mesmos já pensamos em escrever a nossa biografia, mas com essa vida tão enlouquecida de compromissos, isso se tornou impossível. Sentimos firmeza no trabalho da Vanessa e aceitamos dar depoimentos para o livro. Só o Serginho (Herval, baterista)  não curtiu”, ressalta Ricardo Feghali, tecladista do Roupa Nova. “Nós somos seis pessoas diferentes. Eu   gosto de estar perto da galera, sou o cara  que  bate papo, tira foto em todos os lugares, mas ele não gosta disso. O Serginho  prefere, e tem todo o direito a isso,  manter sua privacidade,  não gosta de ter  a vida   exposta, não gosta de estar em todos os lugares tirando fotos”.

Voto  vencido (“Na banda, salvo em  em situações como uma renovação de contrato, o que a maioria  decidir os outros têm que acatar”, explica Feghali), Serginho  não compareceu ao   lançamento de ‘Tudo de Novo’, este mês em uma livraria na Barra da Tijuca. “Não entendo, eles sempre foram muito certinhos. O único que teve problemas com bebida foi o (vocalista) Paulinho, e curiosamente, foi o primeiro a abrir as portas de sua casa para mim”, detalha Vanessa.

Esse lado ‘certinho’ do Roupa Nova, que isolou o grupo das manchetes sensacionalistas, teve um efeito colateral:  fez com eles colecionassem um punhado de críticas na imprensa — graças também a. Aliás, os embates deles com os jornalistas é histórico, e estão devidamente relatados na biografia. “Não usamos drogas, não somos pessoas enlouquecidas, daquelas que quebram tudo. Essas coisas que a imprensa acha que gera algum glamour  a gente definitivamente não tem”, define o tecladista. “Mas essa relação está mudando, já assumem que temos valor,  isso depois de 33 anos de carreira”.

Outras  tretas que rolaram durante a trajetória do grupo também estão lá, incluindo um mal estar até hoje não resolvido com Gal Costa — a cantora, inclusive, não deu entrevista para o livro. “A música ‘Chuva de Prata’  foi feita por Ed Wilson e Ronaldo Bastos para  entrar em um  disco do Roupa Nova. Quando o (produtor) Mariozinho Rocha ouviu,  falou era  a cara da Gal e que precisava dessa música para popularizar ela  no mercado. O Roupa Nova cedeu porque foi garantido  que ‘Chuva de Prata’ não seria música de trabalho, mas como o disco dela não estava vendendo,   tiveram que recorrer à música  e foi um sucesso”, explica a autora, e Feghali competa: “O Mariozinho também disse que sempre que alguém perguntasse, a Gal  diria que era uma música originalmente do Roupa Nova. Só que ela foi no  programa do Chacrinha e, mesmo quando ele a perguntou sobre a história da canção, ela sequer citou a gente. Nunca mais falamos disso, deixamos para trás”, lamenta ele.


A história da banda não acaba em ‘Tudo de Novo’. O Roupa Nova já tem  novos capítulos em  sua trajetória.  “No ano que vem vamos lançar um filme, vai se chamar ‘Todo Amor do Mundo’. Será  um documentário  contando nossa história  com diversas participações especiais”, antecipa Feghali.

O Roupa Nova acaba de liberar a caixa   ‘Roupa Nova Music’, com Roupa Nova — Nossa História’, com cinco DVDs e um EP trazendo seis músicas inéditas. Atenção: não confundir com a caixa de quatro CDs ‘Roupa Nova — Nossa História’, que a Sony, antiga gravadora deles antes de se tornarem independentes, lançou também este ano. “Isso foi o que chamo de vampirismo da gravadora. Sempre que a gente  vai  lançar alguma coisa, eles  lançam uma coisa parecida para competir e confundir as pessoas”, reclama Feghali, sobre este  lançamento  que, ao que parece, não seria autorizado pela banda. LSM

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Feira legal

Como Marcelo D2 se transformou de inimigo público no empresário bem sucedido, que abre lojas itinerantes e distribui produtos personalizados em quermesse montada nos shows de lançamento do novo CD

Quase nada pode parar Marcelo D2. Na entrada de um estúdio em Botafogo, um comboio 'bossanovístico' atravessa seu caminho e ali não tem jeito: ele para pelo menos uns dez minutinhos para celebrar afinidades com Marcos Valle, Carlos Lyra e Wanda Sá. João Donato saíra minutos antes, do ensaio para a gravação do DVD dela. "Pô, vocês têm que ir no meu show", convida Marcelo D2, que ensaiaria logo em seguida. "Estou lançando meu novo CD, 'Nada Pode Me Parar', e vou montar uma feira com rádio própria, tocando todas as pessoas que eu sampleei, entre elas você, Marcos Valle (o refrão 'É mentira...', na música 'Contexto' do grupo Planet Hemp, que D2 integrou, é chupado de 'Mentira', de Valle). E vai ter também a Barraca da Larica e brincadeiras como Acerte o Baseado Na Boca do D2", detalha, sem perceber uma cara de semiconstrangimento que toma Wanda Sá e Carlos Lyra.

Talvez mais acostumado com o entusiasmo legalizado de D2, Marcos Valle dá linha em um papo que termina com abraços calorosos dos quatro e o convite dela para que D2 também compareça ao show que fará com os amigos.

Já na mesa do boteco da esquina, entre um gole e outro de cerveja enquanto sua banda aperta as carrapetas dentro do estúdio para o ensaio começar, ele conta ainda que a tal Feira MD2 - Nada Pode Me Parar terá também  Playstations com jogos Fifa 14 (premiando com camisas e tênis) e Skate 3 (premiando com camisas e shapes Drop Dead), Print Gram (impressão de fotos diretamente do instagram para todos que postarem lá fotos do evento com a hashtag #nadapodemeparar) e as barracas Qualé A Música, Retrato Falado (que faz caricaturas do público em um cartaz 'Procura-se') e Acerte Os Felas (inspirado em uma música do disco novo, e premiando com latas de cerveja). Os brindes, que incluem ainda papéis para enrolar cigarros (a popular seda) e isqueiros, são todos personalizados com a marca MD2.

Afinal, como o ex-inimigo público número 1 (de quando foi preso com o Planet Hemp por cantar músicas que fazem apologia à maconha, em 1997) se transformou em um bem sucedido homem de negócios, sendo procurado para agregar valor a grandes marcas como Fifa e Nike.

"Quem me chamava de inimigo público eram delegados, juízes, políticos... agora é a vez deles irem para trás das grades", provoca, referindo-se às prisões do Mensalão. "Nasci em Madureira, fui criado no Andaraí, e vivi muitos anos na Lapa. Conheço tudo desses bairros e antes do sucesso eu fui camelô por muito tempo, cheguei a ter barraca no Catete, onde vendia muambas que trazia do Paraguai. Acho que sempre fui um bom vendedor. Vendi também em lojas de moveis no Catete, trabalhei no setor de guarda-chuvas da Mesbla (extinta loja de departamentos, muito popular nos anos 80) e em loja de roupas em Maringá, no Paraná. E recentemente abri duas 'pop-up stores' (uma espécie de loja itinerante) em São Paulo e Nova York, onde vendi produtos personalizados como roupas e acessórios, CDs, skates. É por isso que estou montando essa grande feira na nova turnê".

A inspiração para criar seus próprios produtos, recorda D2, veio do grupo norte-americano de hard rock Kiss. "Desde guri eu ficava fascinado com o fato de eles fazerem vários produtos com a marca da banda, desde bonequinhos até vibrador, que trazia na ponta a língua do Gene Simmons (o icônico baixista do Kiss, que se veste como o homem-morcego)", detalha, às gargalhadas. "Mas não vou chegar a esse ponto, pode ficar tranquilo", garante.

A despeito de todo o sucesso como empresário, Marcelo D2 não se considera um homem de negócios, e atesta que seu ramo é mesmo a música. "Eu acordo todo dia às três da tarde, não dá para ser executivo assim, né?", diverte-se.

NA ESTRADA
A turnê 'Nada Pode Me Parar' roda o Brasil até o fim do verão, quando parte para Paris e, de lá, para a Europa e Ásia, durante o verão do hemisfério norte, passando por 18 países.

"Eu fiz um clipe para cada uma das 15 músicas desse disco novo, mas até agora só mostrei três. Então, eu tenho ainda 12 clipes inéditos, que vou lançando durante a turnê. O próximo será da música 'Você Diz Que o Amor Não Dói', que gravei em uma favela de Angola, com rappers de lá, e vai sair já na semana que vem", antecipa D2.

MANTENDO O RESPEITO
Foi um baita transtorno a prisão com o Planet Hemp nos anos 90, mas hoje, olhando em retrospecto, Marcelo D2 orgulha-se de ter aberto portas para o diálogo na sociedade sobre a legalização da maconha: "As pessoas sempre quiseram associar a maconha ao marginal. Eu nunca roubei dinheiro de ninguém, nunca desviei verbas públicas. Acho que depois do Planet, as pessoas começaram a ver que o cara que fuma maconha também pode ser legal. Essa foi a aposta que eu fiz. E paguei o preço".

Perguntado se acredita que um dia ainda verá a maconha ser legalizada no Brasil, D2 hesita, pensa, balança a cabeça... e desconversa: "Para mim, já está legalizada há muito tempo!". LSM (foto: Fernando Souza)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Os meninos do Il Volo discutem o tempo todo, mas se afinam no palco

Os jovens cantores do trio vocal italiano Il Volo vivem discutindo. Seja qual for o assunto, parece que coisa rara é concordarem. Para começar, Gianluca Ginoble (18 anos) torce pelo Roma, Ignazio Boschetto (19) pelo Juventus e Piero Barone (20), pelo Milan. As diferenças vão além dos campos de futebol e chegam até a música, e eles se atropelam um ao outro para defender seus pontos de vista. Quando o debate esquenta, deixam até o inglês e o espanhol de lado, idiomas que costumam recorrer muitas vezes para dar entrevistas internacionais, esquecem que estão diante de um repórter e terminam gritando entre si em italiano.

“Claro que é possível quebrar um copo emitindo uma nota bem aguda com a voz”, garante o tenor Boschetto, para logo ter que argumentar com Ginoble, que duvida dele.


Em sua estreia no Rio, esses jovenzinhos turrões levaram a sua ópera pop ao palco do Theatro Municipal do Rio, lançamento do novo CD e DVD ‘Más Que Amor’. Suas influências vêm da música clássica, tão rica em seu país e tudo a ver com o nobre palco carioca, mas a histeria das fãs que os acompanham seria mais apropriada para outro local, talvez uma Praça da Apoteose, visto que as meninas piram com seus rostinhos bonitos tal e qual com o Justin Bieber.

“Não somos boy band, não queremos ser comparados com o One Direction, como já aconteceu... não tem nada a ver”, decretam, finalmente concordando, quase em uníssono. “No nosso show, vão as adolescentes, mas também vão os avós delas, atraídos pelo aspecto erudito da nossa música. Fazemos um baita esforço para mostrar que música clássica não é só coisa de velho. Se uma melodia é boa, ela é boa para todas as idades”, completa Boschetto.

Eles não são comparados apenas às boy bands. Também os relacionam com os célebres Três Tenores: Plácido Domingo (com quem já gravaram), José Carreras e Luciano Pavarotti. Normal, embora no Il Volo sejam ‘dois tenores e um barítono’ — no caso, o Gianluca Ginoble.

MAIS BRIGAS
É a segunda vinda do trio ao Brasil. Em 2012, passaram apenas por São Paulo. Desta vez, incluíram no roteiro também Curitiba e Porto Alegre, além do Rio. “Queria uma semana livre para conhecer o Rio, mas não vai dar”, lamenta Ginoble. “Prometo, inclusive, que vamos gravar algo em português!”.

É um idioma que falta no currículo do trio. Os poliglotas incluem ainda alemão e francês na bagagem, sem falar nos já citados inglês e espanhol (‘Más Que Amor’, inclusive, é o primeiro álbum em espanhol deles) – e o italiano, claro. “Mas eu conheço música brasileira, adoro Tom Jobim, especialmente aquela que diz ‘só bailo samba’...”, entusiasma-se Ginoble, se arriscando a cantarolar a melodia de ‘Só Danço Samba’, de Tom e Vinicius de Moraes.

Piero Barone não deixa barato e enfileira os artistas brasucas que conhece: “Gilberto Gil, Renato Russo, me amarro!”, elogia... mas aí os três começam a discutir novamente, em frases em italiano que o repórter arrisca ter sido algo como “você nem sabe quem é Renato Russo, ta querendo impressionar...”. LSM

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Como o diabo gosta

Aos 72 anos, Ney Matogrosso já fez quase tudo nessa vida. Quase... “Nossa, nunca empunhei uma guitarra antes... Como faz com essa correia, me ajudem aqui que estou enrolado!”, diverte-se o cantor — que já declarou ter experimentado maconha, cocaína, LSD, haxixe, chá de cogumelo, Santo Daime, além de sexo grupal — ao posar pela primeira vez com o instrumento-símbolo do rock.

A foto registra um descontraído ensaio com a roqueira carioca Marília Bessy, para show de lançamento do CD e DVD ‘Infernynho’ (com ‘y’ mesmo), que gravaram juntos.

“Eu vim do rock!”, ressalta ele, lembrando que despontou no grupo Secos & Molhados. “É o gênero musical que mais mudou a mentalidade do planeta. O mundo está muito careta. A música que aprendi a amar é intensa, diferentemente da que vem sendo feita atualmente, muito light”.

A crítica de Ney, claro, passa longe da companheira Marília. “Eles têm em comum uma proposta sexy e libertária. Rolou uma química natural”, atesta o jornalista e pesquisador musical Rodrigo Faour, que assina a direção do espetáculo.

Ela, que já lançou um CD chamado ‘Doce Devassa’ (“A Marília sempre foi uma vagabunda, agora que está largando essa vida”, brinca Faour), conta que esse lado ‘safadinha’ vem desde cedo. “Sempre causei polêmica entre a minha turma de amigos. Acho que, por isso, eu nunca autorizaria a minha biografia!”, diverte-se ela. “O inferninho do título é um puteiro mesmo, um lugar democrático onde as pessoas vão para se divertir. O show é isso: dançante e sensual”, define.

No roteiro, estão ritmos e letras provocantes, como ‘Folia no Matagal’ (Eduardo Dussek), ‘Fogo e Paixão’ (Wando) e ‘Conga, Conga, Conga’ (sucesso de Gretchen, a rainha do rebolado, na qual a dupla protagoniza uma pegação séria no palco).

“O artista tem que ousar e provocar, tem que se expor com liberdade”, decreta Ney.

E, por falar em liberdade, qual sua opinião sobre a polêmica questão das biografias não-autorizadas? “Muita coisa ainda vai mudar sobre isso... veja que até o Roberto Carlos parece que mudou de opinião! Mas eu acho que, se for lançada uma série na televisão sobre um artista ou um livro, esse artista também merece ser remunerado”, opina ele. “A minha biografia, podem escrever à vontade. Afinal, já contei tudo de mais íntimo da minha vida em entrevistas!”. LSM (fotos André Mourão)

sábado, 26 de outubro de 2013

‘A Garota de Ipanema é a minha namorada’

Na ampla sala de seu apartamento, na Fonte da Saudade, tem até uma cama de casal. “As crianças da família adoram vir aqui. Sou madrinha de umas dez, e elas dizem que a casa da Tia Tinália é um parquinho”, comemora Mart’nália. “E eu jogo Playstation com elas, não decreto hora para elas tomarem banho e faço uma mamadeira show!”.


A filha de Martinho da Vila, que prepara um espetáculo exclusivo com a obra de Vinicius de Moraes (saiba mais abaixo), parece que leva mesmo jeito para a maternidade. Na série da Globo ‘Pé Na Cova’, onde ela tira onda de atriz, sua personagem Tamanco, a homossexual casada com Odete Roitman (Luma Costa), adotou um menino, Sermancino (Gabriel Lima).

“Eu até adotaria uma criança na vida real, mas acho que é algo muito difícil, muito cheio de burocracia, nem sei se conseguiria”, pondera Mart’nália, que é gay assumida. “O ‘Pé Na Cova’ é pura polêmica, né? Tem a sapatão, tem a outra que se mostra na internet... Acho importante que esses assuntos sejam levados ao público na TV aberta. Tudo o que acontece ali, acontece também fora da tela”.

Apesar do sucesso de sua personagem, a sambista descarta a carreira de atriz. “Ah, isso é só uma brincadeira. Mas estou gostando! Já me chamam de Tamanco na rua. Eu respondo, claro!”, diverte-se. “E tem até gente que nem sabe que sou cantora e que só me conhece pela série”.

‘VINICIADA’
“Sou iniciada em sua obra e viciada nele, então digo que eu sou ‘Viniciada’!”, decreta Mart’nália.


Ela já é sócia do Back2Black, o festival que celebra a cultura negra e que terá sua próxima edição de 15 a 17 de novembro na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Ela diz que até já perdeu a conta de quantas vezes participou, mas desta vez ela prepara um espetáculo exclusivo em homenagem a Vinicius de Moraes para a noite de encerramento do evento.

“Tem tudo a ver o Vinicius no Back2Black, né? Afinal, ele mesmo sempre disse que era o branco mais preto do Brasil”, ressalta ela. “Gostei do desafio de preparar esse show. Serão dez músicas apenas, porque o festival terá ainda outras atrações. Vou cantar alguns dos ‘afro-sambas’ que ele fez com o Baden Powell e fazer no início um pot-pourri daquelas parcerias bem conhecidonas com o Tom Jobim, da época da Bossa Nova, para já dar o recado logo no começo. Outra que vai ficar muito legal é ‘A Tonga da Mironga do Kabuletê’, dele com o Toquinho”, detalha.

E, na sua opinião, quem melhor representaria hoje a Garota de Ipanema? “Hum... a Garota de Ipanema 2013, sem dúvida, é a minha namorada!”, elege. LSM (fotos Maíra Coelho) 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Valesca poderosa

A letra da música ‘Gatas Extraordinárias’, sucesso de Caetano Veloso eternizado por Cássia Eller, traz o verso “O batidão do meu coração na pista escura”. Pronto: se tem as palavras ‘batidão’ e ‘pista’ na mesma frase, tem tudo a ver com o funk. E, acredite, ela estará no roteiro do poderoso show que Valesca Popozuda estreia no próximo sábado, na festa BaiLED, na Fundição Progresso — onde a funkeira, inclusive, vai comemorar seu aniversário de 35 anos, completados no dia seguinte. Repleta de efeitos especiais, a megaprodução tem a assinatura da mesma trupe que preparou o ‘Show das Poderosas’, da mais recente febre do gênero, Anitta.

“Vai ser tudo grandioso, coisa que nunca tive nas minhas apresentações. Vão ter uns dez bailarinos no palco comigo... aliás, bailarinos, não! Serão os meus popô-dancers!”, define Valesca.


As novidades na vida da Popozuda vão além do palco. Ela conta que acaba de incorporar um novo hábito para manter em cima não só o popô, mas todo o corpão. “Eu ia direto à musculação, mas parei, estava dando hipertrofia, deixando meu corpo sem molejo. Recentemente, passei para o pilates, que alonga, dá flexibilidade e ajuda na respiração. E é bom para cantar”, recomenda. “Quando olhei aquelas bolas, pensei: ‘Isso é mole!’. Pô, que nada, é pior que malhação!”.

Os cuidados continuam com a alimentação (“Durante a semana, não como besteira, só peixe e salada... mas, se me chamar para um churrasco, não recuso!”) e no salão, onde bate ponto duas vezes por semana. Ela tem que se cuidar, afinal, ficou conhecida pelo visual que valoriza a sensualidade.


“Eu sou dada, e as pessoas acham que esse meu jeito dá medo nos homens, mas não rola isso, não. Dou minhas namoradas, quando conheço um fã interessante, eu fico. Mas não estou comprometida e não gosto de ficar com ninguém famoso”, avisa.

Enquanto não encontra um dono para o coração, Valesca toca a vida com a força do filho, Pablo, de 13 anos. “Ele dá opiniões sobre minha carreira. Quer sempre que eu esteja na moda”, orgulha-se. “Tenho acompanhado mais as tendências e me vestido de acordo com o que vejo nos desfiles”, diz.


CASTELO MEDIEVAL E BEIJINHO NO OMBRO
“Anitta é a poderosa, mas a Valesca é a Rainha do Funk”, classifica Pedro Nercessian, que, junto do também produtor e ator Pablo Falcão, assina tanto o ‘Show das Poderosas’ de Anitta quanto o novo espetáculo da Popozuda. “Como somos atores, queremos sempre dar um ar teatral às produções.”

Para Anitta, o impacto começava na entrada em cena, dentro de uma limusine. Para Valesca, a ideia é dialogar com o clipe de sua nova música, ‘Beijinho no Ombro’, que vai ser filmado em um castelo com ares medievais. “Ela virá como uma rainha e vai ter muitos truques de ilusionismo”, anuncia Pablo Falcão.

Apesar de assinarem os shows das duas divas do funk, os produtores — responsáveis pela badalada festa Chá da Alice — logo fazem questão de avisar que as duas artistas são bem diferentes. “Não dá para comparar. É como se quisesse escolher entre a Madonna e a Lady Gaga”, ressalta Pedro Nercessian.

Valesca Popozuda diz que vê com bons olhos a chegada de uma nova estrela do gênero. “Sou fã dela, é talentosa, só desejo sorte para ela”, afaga. Mas provoca: “Fazer sucesso com uma música é fácil, o desafio será se manter por anos em evidência”. LSM (Fotos: Maíra Coelho)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Heróis da guitarra se reúnem

O Brasil, dizem, é o país do futebol, mas também é o país da música, tamanha a quantidade de talentos por aqui. E não é exagero atestar que o Brasil é um país de guitarristas. Neste sábado, dez dos principais nomes nacionais do instrumento vão se reunir na Praça Duque de Caxias, em Belo Horizonte (MG), para a primeira edição do evento gratuito ‘Tributo Ao Brasil Guitarras’, braço do tradicional ‘Jazz Festival Brasil’ da capital mineira e que se estenderá, em 2014, às cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador.

Andreas Kisser, Armandinho Macedo, Lanny Gordin, Edgard Scandurra, Frank Solari, Toninho Horta, Kiko Loureiro, Luiz Carlini, Marcelo Barbosa e Pepeu Gomes (foto) formam o time dos sonhos que vão se apresentar por lá, das 17h às 22h. “No final, os dez vão subir juntos no palco para tocar o Hino Nacional e ‘Aquarela do Brasil’. A ideia é transformar o evento em uma turnê”, detalha Leo Soltz, produtor do ‘Tributo Ao Brasil Guitarras’. “É difícil definir quais os nossos dez maiores do instrumento, mas acho que esses nomes são bem representativos”. LSM

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Eu vi rock no Rock In Rio

Rock in Rio sim, outro também, a grita dos descontentes começa tão logo se anuncia a realização da próxima edição: “Como pode um evento que se chama rock não ter rock na programação?”. Eu fui. E vi muito rock por lá, acredite. Vi guitarras em brasa nos shows de Vintage Trouble, Living Colour, Autoramas + BNegão (este, uma porrada sonora), Marky Ramone, Detonautas tocando Raul Seixas, Offspring, dos portugueses Aurea + Black Mamba (uma blueseira danada), isso no Palco Sunset, onde passaram ainda Nando Reis e Samuel Rosa. Sim, o que eles tocam é rock. Há quem diminua, classificando de ‘pop’, mas ‘pop’ é só uma redução de ‘popular’, não um gênero musical. Por isso, Capital Inicial e Jota Quest (sim, o Jota Quest) também representaram o rock no festival (verdade que este ano não fizeram algo que se possa dizer “uau, que show incrível!”).

Bruce Springsteen

Mais tímido, o rock pulsou também no Palco Mundo: no tributo a Cazuza, no 30 Seconds To Mars, na Florence And The Machine e no Muse. Também teve guitarradas na Rock Street. Ah, sim, teve Beyoncé, Ivete e Timberlake, mas é bom que seus fãs tenham a chance de conhecer os roqueiros que por lá tocaram. Quem sabe não mudam de tribo? Há outros festivais monotemáticos ao rock, mas o Rock in Rio sofre por ter declamado o nome do rock em vão. Fosse Music in Rio, algo assim, quem sabe os roqueiros estariam comemorando a vinda de Rob Zombie, Ben Harper, Donavon Frankenreiter, Alice In Chains, Matchbox Twenty, Nickelback, Metallica, Bruce Springsteen e Iron Maiden. Sem falar em Frejat e Bon Jovi, que, vá lá, são ‘pop’, mas no fim das contas são personagens do universo do rock brasileiro e mundial.

Iron Maiden

Ah, mas esses artistas não estão entre os seus preferidos? Faltam medalhões? Cadê o AC/DC? Meu lamento é mais pela falta não dos dinossauros, mas de novos nomes fortes. As bandas que vêm surgindo não têm a potência das antecessoras e, com o trono vago, outro rei inicia seu reinado. Como oportunamente questionou um amigo, o produtor fera Paulo Lopez, qual banda de rock (nova) é uma unanimidade (como foram Stones e Nirvana) e faz a cabeça dos jovens? Qual estrela do rock é a sensação nacional? Qual é o grupo mais famoso do mundo? Que conjunto nacional ou internacional representa essa geração? O rock precisa de uma grande banda, ou uma geração delas, que ultrapasse as barreiras das rádios, chegue à população e não se restrinja ao circuito elitizado ou do underground. O rock precisa de juventude, o rock sempre foi jovem, mesmo feito por velhos. LSM

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Volta por cima

O mundo do samba está em festa, afinal, Beth Carvalho está de volta aos palcos. Foram quase dois anos com longos períodos internada por conta de um sério problema na coluna: uma fissura no sacro. Amanhã, no Vivo Rio (mesmo palco onde fizera o último show, em maio de 2012), ela vai cantar sentada (“Um monte de gente faz show sentado, o Caetano, o Ivan Lins, o João Gilberto, qual o problema?”, questiona ela). Tudo bem, Beth! O que importa é que a voz está 100%. Em sua casa, a sambista, que se movimenta com a ajuda de um andador, conta que já pode fazer quase tudo. Até beber uma cervejinha?

“Já falaram que me viram muitas vezes bêbada na Lapa. Mas como, se eu não bebo? É que acham que cerveja e samba estão sempre juntos, mas eu tomo no máximo champanhe, sou fina”, diverte-se ela.


Sorrisão no rosto, nem parece que a barra pesou nesses tempos em cima de uma cama, em casa e no hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo.

“Recuperação de coluna é lenta mesmo, são meses de antibiótico na veia. Até parafuso eu coloquei, tenho falado que virei mulher biônica”, brinca, sempre com um baita bom humor. “Ninguém imaginaria que seria tão longo, a medicina é mesmo uma ciência inexata”.

Registre-se que a estada no hospital teve seus momentos de festa, conforme ela mesma descreve: “As visitas eram diárias, tinha até que fazer escala! Aquele hospital nunca mais será o mesmo. Eu fiz de um tudo lá: roda de samba, feijoada, festa de Natal, debate político, gravação e até o Grammy Latino me entregaram lá”, relata, orgulhosa da estatueta por ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, seu disco mais recente.

O programa de televisão ‘Esquenta’ também não será o mesmo. A participação de Beth na atração comandada por Regina Casé na Globo (que vai ao ar dia 22) causou.

“Levei duas enfermeiras lindíssimas do Pró-Cardíaco para sambar lá. Arlindo Cruz e Mumuzinho ficaram babando e foi um tal de todo mundo querer ficar doente”, conta ela, que ainda tem que passar por duas sessões semanais de fisioterapia, às terças e quintas. “Tenho que me forçar a fazer mais vezes”, admite.

SAMBA NA RUA 
A apresentação de amanhã, dia 7 de setembro, Independência do Brasil (“Será comemorada a minha independência também!”, sentencia ela), vai focar no CD ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, mas, claro, também vai passear pelos sucessos da carreira. “Vamos fazer aquele Carnaval no final”, promete.

Apenas uma música inédita estará no roteiro: “Se chama ‘Parada Errada’, é do Serginho Meriti. Fala de uma mãe que tem um filho viciado em crack. É um samba triste”, classifica. “Acho importante falar disso, visto que o samba sempre teve também esse viés político. Essa geração que está aí deveria ser a geração dos Cieps, mas é a geração do crack”, ressalta ela, lembrando os Brizolões, projeto educacional idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro.

Ah! A apresentação também terá uma participação especial. A cantora Lu Carvalho, sobrinha de Beth, vai apresentar ‘Devotos do Samba’ e ‘Alma Boêmia’, músicas de seu recente CD, ‘O Samba Que Eu Sei’.

SAMBISTA GUERRILHEIRA
Beth Carvalho decreta: “O samba é revolucionário, contestador e democrático”.

Ela declara que acredita no socialismo e, na entrada de seu apartamento, logo se vê um enorme quadro do argentino-cubano Che Guevara. Não dá para não perguntar a ela como bateu a polêmica decisão do governo federal de importar milhares de médicos cubanos para o Brasil.

“Cuba sempre fez esse tipo de trabalho, inclusive nos Estados Unidos, onde eles vão lá ajudar os americanos pobres. Sabe quem está no Haiti agora? Os médicos cubanos. Quando tivemos a primeira ameaça de dengue hemorrágica aqui, eles também vieram. O programa Médico de Família foi implantado em Niterói com médicos cubanos”, observa ela. “O que acontece é que a direita aqui está enlouquecida, ainda não se conforma com a Dilma estar na presidência.”

Por conta do nome do CD, ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, e da capa, que traz uma foto que inicialmente foi pensada para sugerir uma passeata, ela brinca e dispara que foi pioneira dos movimentos nas ruas que tomam o país desde junho — o disco saiu em 2011, registre-se.

“Eu sou da geração da passeata, sempre fui. Fico feliz que os jovens estão voltando a se interessar por política. Houve uma lavagem cerebral muito grande na juventude durante anos”, denuncia. “O plebiscito pela Reforma Política sugerido pela Dilma é, no meu ver, a grande saída para essa história. O Congresso não quer transparência, mas eu ainda tenho esperança de que o plebiscito vá acontecer.” LSM (fotos João Laet)

domingo, 1 de setembro de 2013

Quando a MPB marcou um X

Caixa com discos oitentistas de Xuxa escondem músicas de Frejat, Marcos Valle, Rita Lee e outros


Xuxa conquistou (muito) dinheiro, amigos, amores, negócios, uma beleza física que resiste ao tempo e vários discos de ouro. Só não conseguiu reconhecimento da crítica como cantora. O curioso é que, nos créditos dos sete álbuns que lançou entre 1986 e 1992 — reunidos agora no box ‘Coleção Xou da Xuxa’ — é possível achar vários nomes que ajudaram a fazer alguns dos mais preciosos clássicos da MPB ou do pop nacional.

“Sempre procurei me cercar dos melhores profissionais, mas normalmente os fãs não costumam ler os créditos de quem compõe as músicas”, admite Xuxa.

Ela gravou músicas de Roberto Frejat, Marcos Valle, Rita Lee & Roberto de Carvalho, Ronaldo Monteiro de Souza (parceiro de Ivan Lins em músicas como ‘Madalena’, eternizada por Elis Regina). “Não sei quem escolhia o repertório. Lembro que chegavam muitas músicas para eu colocar voz. As que combinavam mais comigo entravam”, lembra a Rainha dos Baixinhos.

Frejat emplacou ‘Garoto Problema’, parceria com um colega de Barão Vermelho, o baterista Guto Goffi, logo no primeiro ‘Xou da Xuxa’, em 1986. “Inclusive agradeço à Xuxa por ter gravado essa música, que foi encomenda do Guto Graça Mello (produtor)”, ressalta Frejat. “O Barão estava em baixa, com um disco cheio de problemas de prensagem (‘Declare Guerra’, de 1986). Essa música ajudou a gente e a Xuxa acabou tendo um papel importante na sobrevivência da banda”. No mesmo disco, Rita Lee e Roberto de Carvalho traziam o rock ‘Peter Pan’.

Responsável por ‘Vila Sésamo’, uma das trilhas sonoras infantis mais populares dos anos 70, Marcos Valle encerrou o ‘Xou da Xuxa 7’, de 1992, com ‘América Geral’, parceria com Max Pierre e Claudio Rabello pregando a união das Américas. “O tema foi ideia do Max, porque a Xuxa estava conquistando uma audiência de crianças fora do Brasil”, pontua Marcos Valle.

O campeão de hits na voz da cantora é Ronaldo Monteiro de Souza — coautor de músicas como ‘O Circo’, ‘Cobra, Chapéu e Palito’ e o sucesso ‘O Abecedário da Xuxa’ com amigos como Prêntice e Cesar Costa Filho. “Eu estava sem compor com o Ivan há décadas e tinha me desiludido com um projeto. Liguei para o Prêntice e propus mandarmos uma música para a Xuxa. Decidimos arriscar, pior do que estava não poderia ficar”, diverte-se o letrista, que ainda emplaca músicas em trilhas de novelas.

Deu liga a ponto da própria Xuxa, ele conta, ligar para pedir músicas à dupla: “Ela queria canções didáticas, aí mandamos ‘Abecedário’ e ‘Conte Comigo’, sobre aritmética”. Em 1990, veio ‘Boto Rosa’, que acabou até na voz de Milton Nascimento (o cantor participou de um especial dela). “Essa, pensei: ‘Ou a Xuxa se apaixona ou chuta longe’. Não era para a voz dela”.

Todas essas músicas estão no boxe, que destaca ainda um CD-bônus, ‘Seleção Fãs’, com curiosidades como sua gravação de ‘Garota de Ipanema’, de Tom Jobim. O disco deixou alguns fãs chateados pelo baixo número de faixas raras. “Não dá para agradar a todos. Mas o gosto, a vontade deles, está ali”, crê a apresentadora. Para a capa, Xuxa meteu-se no mesmo figurino e repetiu a pose do primeiro disco: “A foto foi tirada nos Estados Unidos quando eu era modelo. O disco foi feito em uma semana e a capa já deveria estar pronta. Só reparei que era um ‘x’ depois”. LSM e Ricardo Schott

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Os sonhos de Milton Nascimento não envelhecem

As recentes manifestações populares que tomam o Brasil desde junho estão mexendo com Milton Nascimento. “Está acontecendo de novo!”, comemora o autor de ‘Coração de Estudante’, canção transformada em hino da reivindicação pelas eleições diretas nos anos 80. “Nunca pensei que veria tão cedo algo parecido com aquela multidão nas ruas. Fiquei tão feliz que fiz shows vestindo uma camisa com a inscrição ‘não é pelos R$ 0,20’”.

Isso foi bem depois de comemorar seus 50 anos de carreira, em um tranquilo mês de novembro, no ano passado, no palco do Vivo Rio. O registro do show acaba de sair no CD e DVD ‘Uma Travessia’, com participação dos velhos amigos Lô Borges e Wagner Tiso (este, o coautor, com Milton, de ‘Coração de Estudante’).

“Fizemos esta música, inicialmente instrumental, para o filme ‘Jango’, do Silvio Tendler”, detalha o cantor. “Quando assisti, me bateu uma saudade de quando trabalhei com a UNE (União Nacional dos Estudantes). Na mesma época, um jovem estudante amigo meu que morava em Roma veio passar uns dias na minha casa. Assim que chegou, dormiu, de tão cansado. Essa imagem dele deitado, com as sensações do filme, me inspiraram a escrever a letra”.

Falando de amigos, Milton logo lembra de outro, para quem fez a conhecidíssima ‘Canção da América’ (“Amigo é coisa pra se guardar...”). “Foi para o músico Ricky Fataar, que tocou com nomes como Beach Boys e Jeff Beck. Fiz em Los Angeles, quando tinha perdido o contato com ele. Até que um dia, em Londres, no camarim de um show meu, me falam que o Eric Clapton estava do lado de fora. Na hora autorizei ele a entrar, e quem estava junto? O Ricky! A partir daí, nunca mais perdemos contato”.

É da natureza de Milton Nascimento comandar o movimento, seja o musical, do seu lendário Clube da Esquina, ou o político, da luta pela democracia. As manifestações atuais só não tiveram força suficiente para inspirar o artista de 70 anos, que atestou em sua música que ‘os sonhos não envelhecem’, a compor uma canção sobre o momento: “Não tenho feito nenhuma nova, sobre nada. Por enquanto, estou só cantando”, descarta.

MILTON EM LIVRO
Neste mesmo mês em que sai o DVD no qual o cantor e compositor passa a limpo a carreira musical ao vivo, sua vida e obra também são contadas em livro. Chico Amaral, letrista do grupo mineiro Skank, lança ‘A Música de Milton Nascimento’ na próxima quarta-feira, na Livraria da Travessa de Ipanema, com presença do próprio homenageado.

(Milton e Chico Amaral)

“Se fosse apenas cantor ou compositor, Milton já estaria na história de nossa música. Ocorre que ele é as duas coisas em altíssimo nível”, elogia o autor. O livro vem ainda com um DVD com um papo exclusivo com Milton em sua casa.

MENINO DO RIO
Milton Nascimento não é mineiro, como muita gente acha. “Sou ‘mineiroca’”, apressa-se ele em classificar a sua naturalidade, mistura de mineiro com carioca. “Nasci no Rio de Janeiro, mas fui para Minas com dois anos de idade e só voltei aos 20”, explica ele.


Milton considera o local onde mora no Rio, no Itanhangá, parecido com a sua amada Minas Gerais “pelas montanhas ao redor”. E aqui ainda tem praia pertinho, né? “Sou muito apaixonado pelo Rio e adoro praia! Gosto de mergulhar, de ir a Búzios e entrar mar adentro”, garante o jovem senhor setentão.

O célebre disco ‘Clube da Esquina’, de 1972, que dividiu com Lô Borges, foi praticamente todo feito de frente para um vasto mar no litoral de Niterói, em Piratininga — no livro do letrista Márcio Borges, ‘Os Sonhos Não Envelhecem’, inclusive, há uma foto de Milton e sua turma pegando jacarés nas ondas de lá.


“A ditadura estava tão má naquele período que tivemos que nos refugiar em Niterói. Faz uns três anos eu passei lá pela área da casa onde fizemos o álbum. Fiquei muito triste, não é mais nem de longe a mesma coisa, a região está muito diferente, muito urbanizada. A gente abria a porta de casa e já estava na areia. E ninguém trancava a porta, não tinha risco algum de violência”, lamenta. LSM (fotos Milton: Maíra Coelho) 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Prazer em conhecer Sasha Grey

Nunca antes a Livraria Cultura de São Paulo havia presenciado tamanha fila para comprar livro e pegar um cobiçado autógrafo — e, se der, tirar uma foto e ainda roubar um beijinho — de um autor. Foram 800 cabeças presentes e 500 livros vendidos. A estrela é Sasha Grey, 25 anos, protagonista de centenas de filmes pornôs (desistam, ela diz que “já conseguiu tudo o que queria como atriz pornô” e não pretende mais fazer tais produções) e autora do romance erótico ‘Juliette Society’ (Ed. Leya, 235 págs., R$ 34,90).

“É muito cansativo passar horas assinando livros (em SP foram quatro horas), apesar de gratificante. Essas tardes de autógrafos são tão exaustivas quanto fazer uma cena intensa de sexo”, compara Sasha Grey, ou Marina Ann Hantzis, seu nome de batismo, em um descontraído papo na orla do Leblon, em frente ao hotel... Marina! “Já ouvi mil piadinhas sobre isso hoje”, brinca ela.

Mas, Sasha, é realmente tão cansativo assim fazer filmes pornôs? Afinal, os atores ali têm prazer, ou estão todos sempre fingindo?

“Eu sempre tive prazer!”, atesta. “E sei de muitas atrizes que também têm. Mas, claro, às vezes, a química entre os atores não rola, e aí é que cansa, demora... Comigo já aconteceu várias vezes, de o ator não gostar de transar porque não sente atração por um corpo mais magro, como o meu, por exemplo. Tem também muitos atores que são gays não-assumidos, o que também dificulta bastante certas cenas”.

‘Juliette Society’ conta a história de Catherine, uma mulher que tem a sexualidade despertada em um clube secreto, onde as pessoas se encontram para explorar suas fantasias sexuais. Qualquer semelhança com o badalado ‘50 Tons de Cinza’ não é mera coincidência — na capa do livro, ela é destacada como ‘a próxima El James’, autora do best-seller. Em matéria de sexo, Sasha Grey, registre-se, é bem mais experimentada.

“As pessoas comparam, porque a literatura erótica faz muito sucesso e gera notícias. Mas o ‘50 Tons...’ é feito com uma estrutura mais tradicional, mais romântica que a do meu livro. Estou já planejando um filme baseado no livro, para o ano que vem, provavelmente”, anuncia.

SASHA IN RIO 
Todo mundo tem a sua primeira vez, e nesta que é sua estreia em território brasileiro, mal aterrissou na capital carioca, pediu: “Nem quero ir ao hotel, vamos direto ao Pão de Açúcar”. E lá foi ela, serelepe, bater perna pela cidade. A programação para a noite era passar por boates na Gávea e Botafogo, e hoje pela manhã, se você correr, é capaz de esbarrar com ela na praia do Leblon.

Mas rapazes, atenção, nem se entusiasmem, porque agora ela é comprometida: “Estou namorando. Nos conhecemos depois que eu parei de fazer pornô. Ele tenta ser compreensivo, dentro do possível”.

NA PISTA
Além de atriz (ela também faz filmes não pornôs) e escritora, Sasha Grey também é guitarrista (“Meu maior ídolo é o Jimi Hendrix”) — já teve banda, aTelecine — e DJ. Hoje, ela vai mostrar seu repertório de house e deep house na festa moderninha do coletivo de fotógrafos I Hate Flash.

“Estou adorando conhecer a música brasileira”, derrete-se ela, já abocanhando um vinil de Jorge Ben Jor. “Lá onde moro, em Los Angeles, o Seu Jorge é muito famoso. Também me amarro no Sepultura!”, completa. LSM (fotos: Fernando Souza) 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Contagem regressiva para o Rock in Rio

Faltam apenas 30 dias para o Rock in Rio 2013. No papo com Roberta Medina, na Cidade do Rock, ela assume: “Ainda tem vários detalhes para afinar, mas já temos 80% da estrutura toda pronta para a música rolar. O que está pendente é só a maquiagem”, avalia.

Com poucas pendências para resolver, a cabeça da vice-presidente do festival já está nas próximas edições. “Costumo dizer que, enquanto um Rock in Rio está acontecendo, outro já está sendo planejado. O próximo será em Lisboa, a partir de 23 de maio de 2014. Vai ser a sexta edição em Portugal e uma data especial, porque vamos celebrar os dez anos do evento por lá”, comemora.


Celebração mais especial ainda está programada para a edição de 2015 no Rio (desde 2011, o festival acontece de dois em dois anos na capital carioca). Na ocasião, serão festejados os 30 anos do primeirão e mais emblemático Rock in Rio, o de 1985. “Vai ser uma grande festa!”, promete. “Vamos transmitir os shows daqui em tempo real para um telão na Times Square (a badalada praça de Manhattan, em Nova York, Estados Unidos)”, anuncia.

Faz tempo a conquista da América pelo Rock in Rio é um sonho acalentado por ela e também por seu pai, Roberto Medina, criador do festival. Finalmente será realizado. “Ainda no primeiro semestre de 2015, teremos um em Las Vegas!”, antecipa Roberta, entusiasmada com os planos.

Nem a possibilidade de tumulto decorrente de alguma manifestação popular das que vêm tomando o Brasil nos últimos meses abala a empolgação. “Acho que não só o carioca, mas o brasileiro em geral gosta e cuida bem do Rock in Rio. Ressalto que 46% do nosso público é de gente fora do Rio. Não acredito que vá ter algum problema, mas, assim como em 2011 tivemos a tentativa de invasão, nós temos nossos planos A, B e C para evitar que coisas assim aconteçam”, avisa, lembrando que, na ocasião, a segurança do evento e a Polícia Militar usaram bombas de efeito moral para afugentar homens que tentaram pular a grade no setor Norte do festival. “Claro que é um evento privado, mas acredito que as pessoas vão querer mesmo é brincar e se divertir”.

LONDRES É AQUI
Imagina o clima londrino, frio que dói, em pleno Rio de Janeiro... Não parece combinar, e a própria Roberta Medina se mostra incrédula ao ver um típico guarda inglês, com aquelas roupas quentes, parado sob um sol de rachar em plena Cidade do Rock, para divulgar o evento : “Coitado, deve estar derretendo nesse calor danado!”, dispara, sem notar qualquer reação do guardinha. “Ah, ele não pode reagir, é assim na Inglaterra!”.

O espaço Rock Street quer provar que Rio e Londres têm tudo a ver, principalmente se deixarmos o clima de lado e focarmos só nas artes. Com temática inglesa, vão passar por lá desde bandas cover dos Beatles (como a All You Need Is Love) a grupos gringos de dança de rua. LSM (foto João Laet)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Pagodinho norte-americano

Já são 30 anos de carreira — devidamente comemorados no recém-lançado DVD ‘30 Anos — Vida Que Segue’. No entanto, durante as três décadas de andanças pelo Brasil e mundo afora, Zeca Pagodinho nunca foi a Las Vegas, nos Estados Unidos, cidade conhecida por ser a meca mundial dos cassinos. Dizem, inclusive, que o pôquer está para Las Vegas assim como o futebol e o samba estão para o Brasil.

No próximo dia 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, Zeca faz um show lá, especialmente planejado para celebrar a data, e promete colocar para sambar a plateia do Encore Theater, no badalado hotel Wynn Las Vegas. Ao mesmo tempo, pretende aproveitar a ocasião para fazer uma fezinha.

“É claro que vou querer brincar um pouco. Vou quebrar a banca lá! Se não pode jogar aqui, eu jogo lá”, decreta Zeca Pagodinho, como que dando seu grito de independência ou... sorte!

Antes de lançar os dados ou apostar na roleta, porém, ele — que não gosta de voos de longa distância e é resistente a apresentações no exterior — faz ainda um outro show em território norte-americano: no dia 1º de setembro, em Nova York, ao lado do sertanejo universitário Gusttavo Lima, no badalado Brazilian Day. E enquanto não decola rumo aos States, Zeca está de olho nos problemas aqui da terrinha — como foi registrado no início do ano, quando saiu pelas ruas de Xerém, em Duque de Caxias, para ajudar as vítimas da chuva que castigou o bairro onde tem um sítio. Na ocasião, uma foto sua com o quadriciclo ajudando nos resgates se popularizou na internet, na forma das mais diversas piadas, e até inspirou páginas no Facebook, como Humor do Zeca, Zeca Boladão e Zeca Indelicado. Ele, no entanto, não achou muita graça. Aliás, garante que nem viu as galhofas.

“Não vejo internet, nem Facebook, nenhuma dessas porras. Então, para mim, isso passou batido”, descarta, sério. “Sou um cidadão e um ser humano, não poderia deixar de ajudar”.

Zeca Pagodinho conta que vem acompanhando as manifestações que pipocam pelo país. “Eu estava achando isso muito bom, mas pessoas quebrando tudo e dando prejuízo a quem trabalha duro, ou impedindo o nosso direito de ir e vir, não é nada legal. Pensei que o Brasil tinha de fato acordado e que as manifestações iam tomar um rumo bacana, mas o que vi foi muita desgraça. Embora isso seja obra de apenas um pequeno grupo, está tirando o foco do que é correto. São uns babacas querendo estragar tudo, e esses caras têm que ser algemados e ir para a cadeia”, desabafa o bamba. LSM

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Alceu Valença, um ‘carioca de Olinda’

O pequeno Rafael, 12 anos, quer porque quer um Playstation. O pai, Alceu Valença, 67, se recusa a comprar o caro videogame. O garoto não se dá por vencido e pergunta se pode montar uma banquinha na rua para vender uns antigos CDs do coroa que estão encostados em um canto da casa da família, em Olinda, Pernambuco.

“Ele é inventor! Vendeu tudinho, conseguiu R$ 1.500 e comprou o tal Playstation. E eu notei que sou mesmo uma atração por lá. As empresas de turismo ganham muito com isso, só eu que não ganhava!”, diverte-se o pernambucano Alceu, que nasceu em São Bento do Una e hoje se divide entre o Rio e Olinda.

A partir da iniciativa do filho, sua mulher, Yanê Montenegro, resolveu profissionalizar a ideia. E assim nasceu a loja Tudo AV, em Olinda, mas que também viaja com Alceu Brasil afora. No próximo dia 29, por exemplo, quando faz show no Teatro Oi Casagrande, no Leblon, estará lá uma barraquinha da Tudo AV.

“Tem almofadas, camisetas, chaveiros, isqueiros, relógios e diversos outros produtos com estampas inspiradas nos meus discos”, anuncia o cantor.


Para esse show, em formato acústico (acompanhado por seu inseparável guitarrista, Paulo Rafael), ele tem outros anúncios a fazer: a participação da bela e talentosa sanfoneira paraibana Lucy Alves, que ele descobriu, e os 30 anos de uma de suas músicas mais populares, 'Anunciação’ (aquela do refrão ‘tu vens... tu vens...’).

“Em 1983, eu estava brincando com uma flauta no jardim da minha casa em Olinda. Lembro até hoje, era uma flauta simples que comprei de um hippie no Rio Grande do Sul. Foi aí que me surgiu a melodia de ‘Anunciação’. Minha namorada ouviu aquilo e falou: ‘Que música bonita essa que você está tocando...’. Mas ainda não era música nenhuma”, recorda. “Inspirado, saí tocando pelo quintal e lá estavam as roupas no varal. Fui até a rua, e ouvi o sino da catedral... isso tudo foi colocado na letra da música depois. Naquele tempo, dava para sair tranquilamente dançando pela rua. Nem autógrafo pediam, porque na época era cafona. E também não tinha telefone celular, para as pessoas ficarem tirando fotos! Graças a Deus!”, diverte-se.


PAPA DEMAIS
Alceu solta a expressão ‘graças a Deus’ várias vezes durante o papo. E é dele a canção ‘Tomara’, que repete em vários versos a frase ‘Tomara, meu Deus, tomara’ (e que se tornou uma espécie de hino das manifestações recentes no País). Mas, religião, ele não segue nenhuma.

“Sinto que as questões de Deus são algo bem maior, uma energia cósmica. Falaram que Deus deveria ter evitado a chuva durante a visita do Papa... pô, acho que ele não se mete muito nesses problemas da Terra”, comenta. “Eu não tenho religião, mas gostei do Papa, achei que ele é muito carismático, lúcido e inteligente. Já minha mãe, que é católica, não aguentava mais. Chamei-a para ver o Papa na televisão, ela disse: ‘Mas nem se ele estiver vestido de mulher!’. Foi Papa demais pra ela”, brinca o artista.

Sempre travesso, Alceu até hoje desobedece Dona Adelma Valença, 99 anos. “Ela falou que eu pareço mais jovem sem barba, e disse: ‘Ou tira ou pinta de preto! Faça isso, o povão gosta de ser enganado!’”, conta, às gargalhadas.

Apesar das orientações da mãe, ele mantém o cavanhaque. E não pintou de preto. Para o rejuvenescimento, Alceu conta que segue os conselhos de um antigo amigo. “Tem um artista plástico chamado Bill de Olinda que me ensinou que, para ser eternamente jovem, é só se olhar no espelho todo dia e dizer: ‘Eu gosto de você’”.

APOSTA PARAIBANA
Para a apresentação no Oi Casagrande, dia 29, Alceu vai chamar ao palco uma jovenzinha sanfoneira da Paraíba que o encantou. Tanto que, desde o ano passado, ela tem participado de apresentações suas. Revelação do instrumento, a linda e talentosa Lucy Alves também é cantora e integra, em seu estado, o grupo Clã Brasil.

“Conheci a Lucy quando fui tocar em uma festa de fim de ano de uma empresa, em Pernambuco. Ela se apresentou antes e fiquei tão entusiasmado com seu talento que pedi espontaneamente para dar uma canja”, relata.

Alceu Valença tem seis tipos de shows diferentes, que faz questão de enumerar e detalhar com orgulho: “Anote aí, viu? Tem o que faço no período de São João, que é forrozão; tem o de Carnaval, repleto de frevo e maracatu; o que chamo de ‘Metropolitano’, só com os sucessos da carreira; montei também o ‘Valencianas’, que é um concerto com a Orquestra de Cordas de Ouro Preto; tem ainda o meu show de rock, que é baseado no meu disco ‘Vivo’, de 1976; e tem esse acústico, que trago de volta ao Rio, no qual toco com meu amigo de anos Paulo Rafael”, lista. LSM (fotos Alceu: Felipe O'Neill) 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Descoberta por Dennis Carvalho, Michele Leal vai parar na trilha de 'Sangue Bom'

Sabe aquelas histórias de contos de fadas, com sonhos realizados, príncipe encantado e tudo mais? Pois elas acontecem não só no mundo das fábulas, mas também na vida real. Foi assim com a cantora mineira Michele Leal. Há sete anos, ela saiu de Itajubá, no sul de Minas Gerais, para cursar Comunicação Social no Rio e, claro, se arriscar na música nas horas vagas. Até que um dia...

“Eu estava passeando na Lapa, aí um amigo me convidou para assistir a um show em um hostel”, detalha o diretor de novelas Dennis Carvalho, o ‘príncipe encantado’ em questão. “Era uma apresentação da Michele Leal. Eu fui, e lá ouvi uma música que adorei, ‘Jacarandá’. Perguntei a ela se interessava colocá-la na trilha de ‘Sangue Bom’”.

Carvalho assina a direção geral e de núcleo da novela das 19h da Globo, e ‘Jacarandá’ foi parar na trama como tema de Malu, personagem interpretada pela atriz Fernanda Vasconcellos. A faixa faz parte também da estreia em disco de Michele, no EP (disco de cinco faixas) homônimo da canção. “Foi uma grande surpresa o Dennis ter aparecido naquela ocasião, assim, sem mandar aviso. Lembro que ele se divertiu e dançou bastante”, comenta a cantora, ainda incrédula. “Dá prazer e orgulho ter meu trabalho divulgado em uma novela na televisão, alcançando um grande público em escala nacional. Agora, as pessoas vão até cantar comigo no show”, comemora a jovem de 28 anos.

Ela não vai esquecer nunca a primeira vez que ouviu ‘Jacarandá’ no ar. “Meus amigos fizeram questão de me prender em casa na frente da televisão para assistir ao primeiro capítulo da novela. Quando a minha música tocou, foi como um gol do Brasil na final da Copa do Mundo. A gente gritava e se abraçava com euforia”, relata.

foto: Felipe O'Neill

Michele Leal vai além do sucesso global. Seu CD, registre-se, tem direção e produção musical de Jorge Helder, baixista de nomes como Chico Buarque e um dos mais requisitados da música brasileira, e participação de outros músicos tão renomados quanto, como Lula Galvão, Jaques Morelenbaum, Jurim Moreira, Marcos Nimrichter e Jaime Alem. Seu ritmo passeia pelo samba, rock, maracatu, baião e afoxé. Inclusive, todas as canções do EP ‘Jacarandá’ podem ser baixadas gratuitamente em seu site, www.micheleleal.com.br. A atriz Fernanda Vasconcellos garante que amou a música ‘Jacarandá’.

"Escuto ela sempre e, desde a primeira vez, já quis conhecer a Michele, que me foi apresentada pelo Dennis Carvalho”, conta a atriz.

Michele Leal diz que se identifica com a personagem Malu, que tem como característica viver para ajudar os outros: “Acredito que cantar e fazer música é como ajudar as pessoas, fazê-las felizes e trazer alegria para todos”. LSM

sábado, 13 de julho de 2013

Nós, mulheres de roqueiros

Ser mulher do vocalista de uma banda de rock deve ser o máximo, não é? Tem até propaganda na televisão falando disso. A verdade é que nem sempre é mole ser casada com um marido-roqueiro, que tem que se dividir entre shows, viagens e a família. Sem falar no assédio das fãs enlouquecidas. E quando a banda vai ensaiar no lar do casal, e sobra para a patroa fazer lanchinho para a galera?

Hoje, Dia Mundial do Rock (celebrado desde o histórico festival beneficente Live Aid, em 13 de julho de 1985), revelamos como é a vida das moças que curtem e seguram a onda ao lado de roqueiros como Tico Santa Cruz (Detonautas), Philippe Seabra (Plebe Rude), Canisso (Raimundos) e Bruno Gouveia (Biquini Cavadão).

Luciana Rocha, astrônoma. Está casada há 12 anos com o vocalista Tico Santa Cruz. Mãe de Lucas, 12 anos, e Bárbara Odara, 5
Ela ama o gênero musical abraçado pelo marido, Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas. E tem até uma tatuagem no pulso em homenagem ao rock.


“Já aconteceu de eu ser barrada no camarim dele pelo segurança. Quando comentei que era a mulher do Tico, ele apontou para várias outras meninas e disse: ‘Tá vendo aquela ali? Também é mulher do Tico. Aquela outra ali é a namorada do Tico, e aquela mais atrás é mãe do Tico. Tem umas 20 mulheres aqui querendo entrar dizendo que são mulheres dele”, conta ela, que, depois de algum custo, conseguiu provar ser a “oficial”. “Quando ele sai em turnê, a saudade alimenta nossa relação. Quando ele retorna, os sentimentos sempre se renovam. Ele é muito fofo, me acorda de madrugada para dizer que me ama e passa boa parte do tempo me fazendo carinho”, derrete-se Luciana.

Fernanda Silva Rodrigues de Seabra, funcionária pública. Casada com Philippe Seabra, da Plebe Rude, há 10 anos. Eles têm um filho, Philippe, de 1 ano e 7 meses
Quando Philippe Seabra, vocalista e guitarrista da Plebe Rude, faz show, sua parceira, Fernanda, não tem conseguido comparecer. “Quando não tínhamos filho, cheguei a ir com ele algumas vezes nas turnês. Adoro ir, mas depois que nasceu o Lipe-Lipe, é assim que chamamos o nosso filhote, isso se tornou tarefa impossível”, lamenta ela.


O estúdio de Philippe Seabra fica em casa. Então, é inevitável o barulho. Fernanda não costuma dar bronca, mas quando o bebê vai dormir e os ensaios são à noite, acaba pedindo para ele maneirar um pouco. Ela conta ainda que ficar em casa cuidando do pequeno quando Philippe vai tocar não é problema, já que não teme o assédio das fãs dele. “Os roqueiros hoje estão mais caretas. A maioria que eu conheço é bem casada e costuma ser fiel... até onde eu sei! No caso da Plebe, costumam ir ao camarim mais homens que mulheres. Esse é o perfil de fãs da banda. Sorte minha e azar dele!”, brinca.

Izabella Brant de Vasconcelos Schueler Vieira, cantora. Está casada há dois anos com Bruno Gouveia. Eles não têm filhos
Bruno Gouveia e Izabella Brant dividem a mesma profissão: os dois são cantores. Só que ele seguiu o caminho do rock com o Biquini Cavadão e ela, do forró, à frente de sua banda, a Menina do Céu.

“Sempre que ele não tem show, acaba aproveitando para ir aos meus. E ainda faz participação especial! Imagina, um roqueiro cantando xote... E olha que ele leva jeito!”, diverte-se Izabella.

Mas, claro, apesar da atividade musical comum, nem tudo é afinado como neste dueto “forrock”. “Um ponto negativo é quando chegam as datas importantes para a família ou para nós e estamos afastados. Dia dos Namorados juntos é sempre uma incógnita, por exemplo. Mas aprendemos a celebrar antes ou depois das datas em si. Fica especial do mesmo jeito”, resigna-se ela.


Por ser cantora, Izabella, assim como Bruno, também passa pelos usuais assédios dos fãs. “Sei sair da situação com bom humor e ele acaba achando graça. O segredo é ter jogo de cintura e saber impor limites”, ensina.

Ensaios do Biquini em casa? Por ela, tudo bem: “Adoro cozinhar e inventar lanches, almoços e jantares. É um prazer e lamentamos não termos tanto tempo para isso. Bronca aqui é só quando a música acaba!”.

Adriana Toscano de Vilhena Campos, psicóloga, produtora e mãe de família. Está casada há 23 anos com Canisso. O casal tem quatro filhos: Mike, 21 anos; Lori, 20; Nina, 13; e Pedro, 9
O mundo dá voltas: “Quando o conheci, eu é que viajava, pois fui atleta profissional de remo. Então, teve volta!”, recorda Adriana Toscano, mulher de Canisso, baixista do Raimundos. “Até hoje, mesmo depois de tantos anos, sinto saudade quando ele viaja. Quando dá, eu vou junto. Mas já foi bem f... deixar ele nessa estrada. Tivemos problemas quando fiquei muito sem ir nas viagens, porque tinha acabado de ter meu terceiro filho, e o Raimundos estava estouradaço com ‘Mulher de Fases’. Mas não desisti dele, nem ele de mim. Temos muito amor um pelo outro”.

Adriana também é instrumentista: já foi baterista e teve sua própria banda. Ela, portanto, foi alvo do assédio dos fãs. “Antigamente, o Canisso queria logo sair na porrada! Uma vez, saindo de um show dele, quando já estávamos nos dirigindo para o carro, um grupo de fãs se aproximou e um deles falou para o Canisso: ‘Não quero seu autógrafo, não. Quero o da sua mulher!’ Ficamos todos rindo, foi bem engraçado, mas ele ficou p... da vida!”, diverte-se.

Hoje, é ela quem organiza a agenda dele. Depois de tantos anos casados e de tantas experiências, a paixão pelo rock faz sua parte para mantê-los juntos: “Comecei gostando de AC/DC, depois descobri Suicidal Tendencies, Metallica, Queen, Queens Of The Stone Age, Ramones... Aqui em casa todos curtem rock!”, orgulha-se. “O bom é que não caímos em uma rotina, por isso o casamento está sendo longo”. LSM e Ricardo Schott